alunos e professores se integram ao planejamento, a atenção redobra, aproximando o conceito de liberdade com responsabilidade.
O predomínio da música e do jornalismo é uma tradição no rádio brasileiro, talvez reforçado pelas indústrias fonográficas e da informação. A programação, principalmente nas emissoras com predomínio do conteúdo musical, sendo a maioria em freqüência modulada, é constituída, quando a emissora não possui um programa jornalístico específico, pela transmissão de algumas notícias nos intervalos entre as canções.
O projeto de ensino nas rádios universitárias, inclusive nas instituições particulares com emissoras comerciais, integra o planejamento de uma emissora na mesma proporção do conteúdo tradicional, ou seja, estará presente na programação, intrínseco à cultura do meio. Os elementos se completam já que ambos compreendem que existe uma interação entre a produção interna dos profissionais e o aprendizado dos alunos. Qual emissora que sobrevive sem música e jornalismo? Neste processo, cabe à universidade concretizar o espaço radiofônico como rádio universitária.
A consolidação ocorre quando o estatuto da universidade prevê a criação da emissora de rádio como um meio possível para o ensino em comunicação social. Formaliza-se uma cultura que instrumentaliza o aluno por meio do universo radiofônico. Desta forma, toda a equipe da rádio começa a observar o estudante como sujeito do processo e não como um estranho que atrapalha (ou compete) com os profissionais da emissora, sendo estes também colocados na posição de ‘professores da prática’, que completam o trabalho acadêmico e auxiliam o futuro comunicador.
Um projeto sólido de Rádio Universitária torna-se sustentável quando os professores e profissionais de rádio estão imbuídos do mesmo propósito, tendo como finalidade a formação de um aluno criativo, crítico, responsável e aberto, que observe as pessoas como parceiras na construção do saber, por meio de um jornalismo:
1. Flexível: a programação é, propositalmente, aberta, com a possibilidade de inserção de outras produções desvinculadas da grade da emissora. A rotina é constantemente quebrada com as novidades advindas dos alunos que, ao mesmo tempo, conduzem as pautas para programas fixos conforme cronograma pré-estabelecido junto com o professor, assim como elaboram conteúdos livres fora do planejamento, estabelecendo assim uma possibilidade para a experimentação;
2. Alternativo: todas as produções são, constantemente, avaliadas por meio de um diálogo contínuo envolvendo professores, alunos e profissionais da emissora, assim como, se possível, ouvintes, pesquisadores e outros interessados. A prática é conduzida pelo desafio em estabelecer pautas alternativas que discutam os assuntos do cotidiano, com o intuito da construção de mundo melhor, sem falsear o processo de ensino pelo fazer por fazer, em que um engana o outro.
3. Transparente: a honestidade como fundamento daquilo que será transmitido, formando o aluno como um comunicador responsável diante do conteúdo e da abertura do meio. A idéia permanente do ser atuante, em constante movimento, livre e respeitoso para com os demais integrantes do processo. O convívio como colegas no sentido de evitar o isolamento. Valores permanentes para a integração e valorização do aluno como profissional de comunicação, sem a ilusão de práticas laboratoriais que desvirtuam o aprendizado como a simples leitura de textos prontos no microfone ou até as falsas promessas de contratação.
Rebeldia
O único poder do jornalista é a intenção de transformar o mundo, de melhorar as situações de constrangimento em que vive o povo brasileiro, de se rebelar contra a humilhação de conviver com a espera (nas filas dos hospitais ou causadas pela burocracia), com a sujeira (do lixo jogado na rua ou do jogo político), com a falsa ilusão (de uma escola de qualidade ou de uma justiça ágil e imparcial), com a dor (da violência), com a intenção das pessoas em se dar bem pelo dinheiro e poder que destroem as oportunidades de igualdade num país de desiguais.
Consciências estudantis para o desenvolvimento de pautas que revelem o cotidiano e permitam o debate em torno da construção de um país melhor. O sentimento de transformação por meio da cultura do pensar o presente. Dizeres do fato recontado pela perplexidade do repórter que não agüenta mais o mundo padronizado dos grandes jornais, dominados pela padronização das notícias superficiais que, sem respondas, repetem-se durante a programação.

 

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